No ano passado, em Guarulhos, SP, ao adentrar no ônibus de transporte dos passageiros para o aeroporto, a perna esquerda falseou, quando procurava alcançar a alça de segurança. A queda era iminente. Nesse momento, um casal ainda jovem segurou-me pelo braço e evitou o tombo memorável. Agradeci o gesto do jovem casal, sobretudo pela ternura e o carinho que se espelhavam no olhar. Naquele momento, senti-me um idoso, com minhas deficiências e minhas fragilidades.
Por isto, escrevo esta carta a vocês, meus queridos irmãos idosos, "do fundo de minha alma". Não gosto que me chamem de velho, salvo se for um termo carinhoso. Não gosto da expressão "terceira idade", porque devemos viver a nossa idade, a idade que temos, celebrando sempre a vida. Diariamente, ao acordar, agradeço a Deus por mais um dia de vida e recito o Salmo 89, v. 12: "Ensina-nos Senhor a contar nossos dias para que alcancemos o saber do coração." Não vejo desdoiro algum em ser idoso. Somos idosos e temos a sabedoria do coração, a sabedoria da vida. E ela nada mais é do que a "soma de burradas e de acertos que cometemos no curso da vida". Nós, idosos, só pedimos uma coisa aos que nos cercam, aos que conosco convivem: um pouco de paciência e de compreensão, com nossas limitações e fragilidades. Em recente pesquisa, na cidade de São Paulo, constatou-se que 12% das violências praticadas contra idosos acontecem no próprio lar. Só foram contadas as agressões físicas, não se levando em conta os xingamentos, os descasos e as ofensas morais. O Governo editou um Estatuto do Idoso, que acho uma farsa. Eu gostaria que houvesse uma espécie de "estatuto do idoso" no coração de nossos semelhantes. E nada mais.
Meus queridos amigos idosos, não se aposentem para a vida. Amem os filhos e netos, mas não se prendam em demasia a eles. Cada um com sua vida. E vivam a vida com alegria. "Não se entregue à tristeza, pois a alegria do homem torna mais longa a sua vida" (Eclesiástico 30, 23). Freqüentem os bailes da "terceira idade". Dancem, brinquem e divirtam-se. Viajem bastante, não percam as oportunidades de conhecer novos lugares e novas coisas. Se possível, freqüentem um curso nas faculdades. Façam palavras cruzadas, aprendam a usar um computador, inscrevam-se em uma academia de ginástica. Seja um voluntário e trabalhe, por algumas horas, nas pastorais da paróquia ou nas obras sociais da cidade. Dêem tratos à cabeça. Mas, não se entreguem de forma alguma, Nada de cadeira de balanço e nem colocar o pijama. É velho quem se diz velho, quem pensa que é velho. Viva a vida que Deus lhe concede, amando-a intensamente a cada momento. Sabe meus amigos, o que faço? cuido as unhas cada duas semanas, passo creme nas mãos enrugadas e uso perfume. Se eu não me amar, gente, quem vai me amar? Eu tenho que gostar de mim mesmo. Vocês não acham que tenho razão?
Quando surgirem às dificuldades e os percalços orem e apeguem-se à leitura e às lições da Bíblia. A oração, que nos dá forças, é o canal que nos repassa a graça de Deus, todo misericórdia, através do Espírito Santo.
O que queremos, nesta quadra da existência, é apenas o respeito, a compreensão daqueles com quem convivemos. E quando chegarmos ao fim dos tempos, saibamos enfrentar a irmã Morte com serenidade, pois a vida é mera passagem; espero que tenhamos, então, alguém ao nosso lado, afagando nosso rosto e fechando nossos olhos, para passarmos, à uma vida que não se acabará jamais.
(Escrito por Heloísa Mello, 15 dias antes de seu falecimento dia 27/07/2007 em Cascavel - PR)
Por isto, escrevo esta carta a vocês, meus queridos irmãos idosos, "do fundo de minha alma". Não gosto que me chamem de velho, salvo se for um termo carinhoso. Não gosto da expressão "terceira idade", porque devemos viver a nossa idade, a idade que temos, celebrando sempre a vida. Diariamente, ao acordar, agradeço a Deus por mais um dia de vida e recito o Salmo 89, v. 12: "Ensina-nos Senhor a contar nossos dias para que alcancemos o saber do coração." Não vejo desdoiro algum em ser idoso. Somos idosos e temos a sabedoria do coração, a sabedoria da vida. E ela nada mais é do que a "soma de burradas e de acertos que cometemos no curso da vida". Nós, idosos, só pedimos uma coisa aos que nos cercam, aos que conosco convivem: um pouco de paciência e de compreensão, com nossas limitações e fragilidades. Em recente pesquisa, na cidade de São Paulo, constatou-se que 12% das violências praticadas contra idosos acontecem no próprio lar. Só foram contadas as agressões físicas, não se levando em conta os xingamentos, os descasos e as ofensas morais. O Governo editou um Estatuto do Idoso, que acho uma farsa. Eu gostaria que houvesse uma espécie de "estatuto do idoso" no coração de nossos semelhantes. E nada mais.
Meus queridos amigos idosos, não se aposentem para a vida. Amem os filhos e netos, mas não se prendam em demasia a eles. Cada um com sua vida. E vivam a vida com alegria. "Não se entregue à tristeza, pois a alegria do homem torna mais longa a sua vida" (Eclesiástico 30, 23). Freqüentem os bailes da "terceira idade". Dancem, brinquem e divirtam-se. Viajem bastante, não percam as oportunidades de conhecer novos lugares e novas coisas. Se possível, freqüentem um curso nas faculdades. Façam palavras cruzadas, aprendam a usar um computador, inscrevam-se em uma academia de ginástica. Seja um voluntário e trabalhe, por algumas horas, nas pastorais da paróquia ou nas obras sociais da cidade. Dêem tratos à cabeça. Mas, não se entreguem de forma alguma, Nada de cadeira de balanço e nem colocar o pijama. É velho quem se diz velho, quem pensa que é velho. Viva a vida que Deus lhe concede, amando-a intensamente a cada momento. Sabe meus amigos, o que faço? cuido as unhas cada duas semanas, passo creme nas mãos enrugadas e uso perfume. Se eu não me amar, gente, quem vai me amar? Eu tenho que gostar de mim mesmo. Vocês não acham que tenho razão?
Quando surgirem às dificuldades e os percalços orem e apeguem-se à leitura e às lições da Bíblia. A oração, que nos dá forças, é o canal que nos repassa a graça de Deus, todo misericórdia, através do Espírito Santo.
O que queremos, nesta quadra da existência, é apenas o respeito, a compreensão daqueles com quem convivemos. E quando chegarmos ao fim dos tempos, saibamos enfrentar a irmã Morte com serenidade, pois a vida é mera passagem; espero que tenhamos, então, alguém ao nosso lado, afagando nosso rosto e fechando nossos olhos, para passarmos, à uma vida que não se acabará jamais.
(Escrito por Heloísa Mello, 15 dias antes de seu falecimento dia 27/07/2007 em Cascavel - PR)
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"Prolongar a juventude é desejo de todos, desfrutar de uma velhice sadia é sabedoria de poucos"